
O deputado moçambicano Venâncio Mondlane, membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), está no centro de uma grande polémica após ter declarado publicamente que, por cada manifestante morto pelas forças policiais, deveria ser morto um polícia. A declaração, feita durante um comício em Maputo, foi recebida com indignação e gerou reações contundentes tanto no plano político quanto na sociedade civil.
Mondlane justificou as suas palavras como uma expressão de revolta face ao que considera uma repressão brutal contra manifestações pacíficas em Moçambique. "Os cidadãos têm direito de expressar o seu descontentamento sem medo de violência policial", disse o deputado, referindo-se a incidentes recentes onde protestos foram dispersos com força letal pelas autoridades. Contudo, muitos consideram as declarações incitação à violência e à desordem pública.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou a abertura de uma investigação sobre o caso, avaliando se Mondlane poderá ser responsabilizado criminalmente por incitação à violência e ameaças contra agentes da autoridade. Em comunicado, a PGR destacou que "nenhuma declaração pública pode justificar a promoção de atos que violem os princípios do Estado de Direito".
Reações de repúdio surgiram de diversas organizações e partidos políticos, incluindo a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Renamo. O porta-voz da FRELIMO classificou as palavras de Mondlane como "irresponsáveis e perigosas", enquanto a Renamo defendeu que a luta pela justiça social deve ser pacífica e respeitar as leis do país.
Por outro lado, a declaração encontrou algum apoio entre setores mais radicais da sociedade civil. Movimentos juvenis críticos ao governo interpretaram as palavras como um grito de revolta contra o que consideram uma impunidade sistemática de forças policiais. Um líder estudantil afirmou: "Embora não defendamos a violência, compreendemos a frustração de Mondlane".
O Conselho Constitucional poderá analisar o caso para determinar se há razões para suspender a imunidade parlamentar de Venâncio Mondlane, caso seja formalmente acusado. Enquanto isso, o deputado continua a defender-se, afirmando que suas palavras foram mal interpretadas e que pretendia apenas alertar para as consequências de uma repressão contínua.
Este incidente lança luz sobre as tensões crescentes em Moçambique, onde o descontentamento social e as dificuldades económicas têm gerado protestos frequentes. Especialistas alertam para a necessidade de diálogo e medidas urgentes para evitar a escalada de conflitos no país.