
O cientista político e professor da Universidade Insper, Fernando Schüler, classificou como um "problema real da economia brasileira" a polêmica envolvendo o uso do Pix, o sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil. A declaração foi feita durante um debate sobre tecnologia e inclusão financeira em São Paulo, nesta quinta-feira.
Schüler destacou que o Pix, apesar de ser uma inovação amplamente elogiada, trouxe à tona questões mais profundas sobre a informalidade na economia e a tributação. "O Pix expõe algo que já existia, mas que agora é mais visível: a dificuldade de formalizar a economia brasileira e o impacto disso na arrecadação de impostos", afirmou.
Nos últimos meses, o uso do Pix tem sido alvo de críticas e debates políticos, especialmente após o governo sugerir medidas de regulamentação e tributação para transações realizadas por meio do sistema. Para Schüler, essas propostas precisam ser tratadas com cuidado para não desincentivar o uso da ferramenta. "Tributar o Pix sem avaliar os impactos pode desestimular a inovação e penalizar pequenos empreendedores que dependem dele", alertou.
O economista também apontou para a desigualdade de acesso à tecnologia como um obstáculo que precisa ser superado. Embora o Pix tenha alcançado milhões de brasileiros, Schüler ressaltou que ainda há uma parcela significativa da população sem acesso a smartphones ou conexão de internet. "O Pix é revolucionário, mas não resolve o problema estrutural da exclusão financeira", disse.
A adoção do sistema tem gerado impactos positivos, como a redução do uso de dinheiro físico e o aumento da inclusão digital. No entanto, críticos argumentam que a facilidade das transações pode estar incentivando práticas ilícitas, como lavagem de dinheiro e evasão fiscal. Para Schüler, o debate deve focar em como equilibrar a inovação com mecanismos eficientes de regulação.
A fala do professor gerou repercussão entre especialistas e lideranças políticas. Enquanto alguns concordam com a necessidade de ajustes, outros defendem que o governo deveria priorizar a educação financeira e o fortalecimento de pequenos negócios antes de propor qualquer tipo de tributação.
O Banco Central ainda não anunciou mudanças definitivas no sistema, mas afirmou estar atento ao debate e aberto a sugestões que possam melhorar a utilização do Pix, sem prejudicar sua popularidade ou acessibilidade.